Conspiração Universal

domingo, 11 de janeiro de 2009



O Universo inteiro conspira a meu favor para que eu esteja aqui e agora.

O meu pai poderia ter se apaixonado por outra mulher. Minha mãe poderia ter se casado com outro homem. Uma guerra poderia ter acontecido, dificultando tudo. Poderia faltar comida e água, impedindo minha sobrevivência. Não fosse a ambição e destemor dos portugueses certamente eu não estaria aqui hoje. Sou um mestiço. Meu pai tem origem alemã e italiana, minha mãe tem origem portuguesa, italiana e até negra. Certamente tenho algo de mouro ou árabe também. Não fossem as condições difíceis na Europa certamente os imigrantes não teriam vindo. Mesmo se não fosse a cobiça e malvadeza dos comerciantes de escravos eu não poderia estar aqui.

Por que um meteoro não cai na minha cabeça? Por que Colombo descobriu a América? Por que meu avô casou com minha avó? Por que um dinossauro não comeu aquela família de mamíferos com aspecto de roedor?

Por que o Sol nasce, brilha e se põe todos os dias? O Sol certamente gosta muito de mim, permitindo que eu sobreviva. Ao mesmo tempo, o Sol nem sabe da minha existência. Ele trabalha continuamente para o benefício de milhares de seres, sem pedir nada em troca. Tal como o Sol, milhares de pessoas tiveram que cumprir o seu dever para que eu pudesse estar aqui. Ao mesmo tempo, elas provavelmente nem sabem que eu existo. Mas alguém planta a comida que eu como, mesmo que eu não a conheça e ela não me conheça. Ela faz isso sem esperar nada em troca de mim.

Que eu possa sentar em zazen é verdadeiramente um milagre. O Universo inteiro tem que permitir que eu sente em zazen. Se um gigante me pisotear, acabou o zazen. Se a minha esposa berrar que a casa está pegando fogo, acabou o zazen. É verdadeiramente um milagre, algo digno de gratidão. Bodhidharma teve que ir a pé da Índia até a China para que eu pudesse estar sentado em zazen. Eu não poderia estar escrevendo sobre Bodhidharma aqui hoje se ele não tivesse feito essa longa caminhada, mas quase certamente ele não sabia que eu iria escrever sobre ele. Ele fez isso por mim, mas ele não fez isso por mim. Dezenas de mestres e discípulos tiveram que preservar o ensino do Dharma até hoje para que eu pudesse praticá-lo. Eles cumpriram seu dever sem pedir nada em troca.

Certamente eu não fiz nada para merecer tudo isso. O que eu posso fazer para retribuir tantas benesses do Universo todo?

Minha esposa está pedindo que eu vá tomar banho logo. Melhor obedecer.

2 comentários:

Unknown disse...

Haha.
É realmente uma maravilha, esta forma de princípio antrópico, não é?
ahhahahahaha
Abração,
Lucas

Jōken disse...
Este comentário foi removido pelo autor.