Sem frio e calor (atualizado)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


Vem fazendo muito calor nos últimos dias. Sentado em zazen, pude perceber meu corpo produzir um filete contínuo de suor, um verdadeiro riacho de suor correndo pelas minhas costas, formando uma poça molhada na roupa. Me disseram que não é recomendável vento no zazen*, então eu passo calor mesmo, sem ligar o ventilador.

As pessoas reclamam muito do calor. Existe até um koan que usa esse tema:

Um monge perguntou a Tozan - "Como podemos escapar do frio e do calor?". Tozan respondeu - "Por que não ir a um lugar onde não há frio nem calor?". - "Existe tal lugar?" o monge perguntou. Tozan respondeu, "Quando frio, que seja frio completamente; quando calor, que seja calor profundamente ."

Eu não tenho coragem suficiente para tentar responder o koan, mas posso tentar entender a resposta de Tozan (o que é um erro, mas que seja).

Eu entendo assim: se é calor, que seja calor, somente calor, tão somente calor, e nada mais (atenção total no momento atual). Se eu pensar "poderia estar mais fresco", não vai ser somente calor, vai ser calor querendo ser frio. Nesse caso, é calor e frio, e não somente calor. Somente calor não é nem mesmo calor, pois calor não é calor sem frio. Somente calor deve ser o tal do lugar onde não há frio nem calor (desculpem-me por tanta bobagem).

Ou seja, quando estiver calor eu devo aceitar o calor, e não lutar contra ele. Mas isso não quer dizer que eu não possa ir para a sombra ou usar o ar-condicionado quando houver. Uma coisa é aceitar algo que está acontecendo e é inevitável e irremediável, outra coisa é poder agir para transformar as coisas conforme as possibilidades surgem.

Assim, não tem problema tirar a camisa e ligar o ventilador* quando estiver calor. Exceto quando eu estiver fazendo zazen, é claro.


* Nota de atualização: O Monge Genshô comentou aqui que não vê problemas em usar ventilador durante o zazen. Que bom!

2 comentários:

Monge Genshô disse...

João, não vejo problema algum em usar um ventilador ou ar condicionado ao fazer zazen. Vento é vento, e ar frio é ar frio, aproveitemos o que houver. Zazen é a própria vida.

Unknown disse...

João, concordo com o Monge Genshô. O caminho do meio parece ser sempre o mais adequado. (Desculpe se falo bobagens..). Grande abraço para você e para a Mila.