Estoicismo e Budismo (II)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009



Além de Marco Aurélio, outros filósofos estóicos importantes foram Zeno de Citium (o primeiro estóico), Epictetus e Sêneca.

"O homem não é perturbado pelas coisas, mas pelas concepções que ele cria delas."
Epictetus

Atualmente, a antiga filosofia estóica é bastante incompreendida, e de forma bem semelhante à maneira como o budismo foi (e em alguns círculos ainda parece ser) incompreendido no Ocidente. A palavra estóico hoje em dia significa alguém desprovido de emoções ou indiferente à dor (os Estóicos ensinavam a liberdade das angústias e dos desejos pela sua filosofia). Mas os Estóicos não buscavam extinguir as emoções, e sim transformá-las por uma prática resoluta que permitia a pessoa desenvolver claro discernimento e calma interior mesmo durante os altos e baixos da vida.

Também muito semelhantemente ao budismo, os estóicos surgiram inseridos em um ambiente cultural riquíssimo, no auge da Civilização Grega, e a filosofia estóica emergiu diretamente de uma tradição filosófica que pregava o ascetismo, a dos Cínicos (analogamente, as primeiras tentativas do Buddha na busca por uma solução ao problema da insatisfação humana foi junto à tradição ascética hindu). Um dos Cínicos mais famosos foi Diógenes de Sínope. Reza a tradição que Alexandre da Macedônia, o futuro conquistador do ocidente, estava viajando pela Grécia e fez uma visita a Diógenes (que na ocasião estava morando em um barril). Alexandre ficou tão impressionado com as idéias do filósofo que lhe ofereceu qualquer presente que estivesse ao seu alcance. Diógenes lhe pediu como presente que Alexandre desse um passo ao lado para que ele não mais tapasse o sol. Vendo mais tarde seus homens zombando de Diógenes, Alexandre lhes disse: "Se eu não fosse Alexandre, seria Diógenes."

Seguindo idéias propostas originalmente por Sócrates, os Estóicos afirmavam que a infelicidade e o mal são resultados da ignorância (outra semelhança com o budismo). Se alguém é cruel, é porque está inconsciente de sua própria razão universal. Se alguém está infeliz, é porque ele "esqueceu" como sua verdadeira natureza realmente opera (esses conceitos me parecem muito semelhantes à Natureza de Buddha, que pertence a todos os seres vivos, mas muitas vezes está em um estado latente). A solução para o mal e a infelicidade então, de acordo com a prática da filosofia Estóica, é examinar seu próprio comportamento e julgamentos para avaliar se eles desviaram da razão universal da natureza. Os Estóicos focavam portanto em promover uma vida em harmonia com o universo. A Virtude estóica consiste em um comportamento em concordância com a Natureza. Esse princípio também se aplica aos comportamentos interpessoais, como ser livre da raiva, inveja e ciúmes. Tudo isso parece quase integralmente compatível com os ensinamentos budistas.

A filosofia para um Estóico não é apenas uma série de crenças ou afirmações éticas, mas sim um modo de vida envolvendo prática constante e treinamento (novamente muito parecido com o Buddhismo). As práticas espirituais estóicas incluem a lógica, o diálogo socrático ou auto-diálogo, a contemplação da morte (prática usual em algumas escolas budistas), treinamento da atenção para permanecer no momento presente (prática presente em praticamente todas as escolas budistas), a reflexão nos problemas do dia-a-dia e possíveis soluções, práticas de memorização, entre outras.

"Diga para você mesmo toda manhã: hoje eu devo conhecer homens ingratos, violentos, traiçoeiros, invejosos, não-caridosos. Todas essas coisas surgiram neles pela ignorância do que é verdadeiramente bom e ruim... Eu não posso ser afetado por nenhum deles, pois nenhum homem me fará agir incorretamente, nem eu posso ficar com raiva de meus companheiros ou odiá-los; pois viemos a este mundo para trabalhar juntos..."
Marco Aurélio

(Alguns trechos foram adaptados do artigo Stoicism da Wikipedia em inglês)