Sobre preocupações com o futuro e a urgência da prática

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Um livro não-buddhista — os Compêndios de Confúcio— nos diz que, se ouvirmos a verdade de manhã, podemos morrer tranqüilamente à tarde. Mesmo que tombemos na próxima esquina de frio e fome, devemos praticar, que seja só por um dia, ou um momento. Deve-se inteiramente à nossa cegueira, proveniente do apego ao mundo, repetirmos o ciclo de nascimentos e mortes, com nossas idéias preconcebidas, em períodos infindáveis de tempo. Seria a alegria eterna, se viéssemos a perecer nesta vida seguindo o Caminho de Buddha. Acrescente-se a isto que, em todo o tesouro das escrituras buddhistas, nunca houve um caso registrado na Índia, na China ou no Japão, de alguém que tivesse morrido de fome e frio enquanto estivesse praticando o buddhismo. Comida e roupa, as necessidades básicas, são já direitos nossos de nascimento, nós já viemos ao mundo com esses." Shobogenzo Zuimonki, cap. 1, caso 19.


Há um certo paralelismo entre esse caso de Dogen Zenji e a prática Purgatio relatada na postagem "Monges do Deserto", em termos de prática espiritual.

No fim do "Purgatio", ou em grego "Catharsis", um período que frequentemente durava muitos anos, o monge havia aprendido a acreditar pacificamente no Senhor para todas as suas necessidades.

Há também um caso semelhante na Bíblia, fortemente simbólico, no livro Êxodo: Enquanto o povo hebreu vagava pelo deserto, guiado por Moisés, Deus enviava diariamente um alimento que caía do céu como flocos de neve: o maná. Não podia ser guardado e acumulado para outros dias. Algumas famílias que ousavam guardá-lo tinham uma surpresa desagradável na manhã seguinte - encontravam uma massa podre e fétida, cheia de vermes.


P.S.: Tal como implícito nos casos acima , o fato de ser relativamente fácil para a comida encontrar a boca - mesmo havendo muita pobreza, isso ocorre praticamente todos os dias para a maioria das 6 bilhões de pessoas na face da Terra - isso não me exime da obrigação mais que devida de agradecer por toda a comida que chega à minha boca, todos os dias. Isso é equivalente a "agradecer a Deus", ou em outras palavras, "ser grato pela vida" ou "reconhecer a vida como sagrada" que é nesse caso nada mais que "fazer aquilo que tem que ser feito".

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