A perspectiva de terceira pessoa (Parte I: Introdução)

quarta-feira, 25 de março de 2009


Esse é um tema que está recorrentemente na minha cabeça. Eu vou chamá-lo de "A perspectiva de terceira pessoa", embora talvez esse não seja o nome mais adequado. O nome mais adequado talvez fosse "Enfraquecendo o eu pelo obedecimento a uma referência externa confiável". Essa é uma análise razoavelmente ousada da minha parte, por isso deveria ser lida com extrema cautela por qualquer pessoa.

Esse exame começa por lembranças de minha infância. Eu lembro claramente que quando eu percebia que meus pais estavam me observando, eu me comportava de maneira diferente de quando eu via que meus pais não estavam me observando. Mais precisamente, eu me "comportava melhor" quando meus pais me observavam, e me comportava pior (brigava mais, fazia diversas maldades, agia egoistamente) quando meus pais não estavam me olhando.

Entendo que isso ocorria pelo grande respeito que eu tinha dos meus pais. Alguns poderiam dizer que era por medo, mas pela minha lembrança não. De fato eu sentia uma espécie de vergonha de desrespeitá-los, mas não exatamente isso. E conheço vários exemplos de pais que, tentando impor medo sobre os filhos, obtém exatamente o oposto do que pretendiam: a desobediência. Meus pais não usavam o medo, embora exercessem sua autoridade de forma firme. Mas eu sinto que os respeitava porque eu podia perceber o seu amor por mim, e assim tinha por eles uma saudável devoção.

Mais tarde na adolescência, eu abandonei parte do respeito pelos meus pais, não por qualquer atitude deles, ou qualquer outra justificativa, mas somente por um grande inflação do meu próprio ego. Com isso eu perdi a principal referência externa que eu tinha, e passei a me comportar cada vez pior e mais egoistamente. Também perdi a única outra referência externa de respeito que eu tinha, pois passei a duvidar seriamente da existência de Deus. Com isso tudo girava em torno de mim mesmo e da minha vontade, quando eu era contrariado eu me revoltava e sentia enorme raiva (uma atitude típica dos adolescentes). O meu eu e a minha própria vontade passaram a dominar minha vida completamente (não que ainda não domine, mas talvez não de uma forma tão excessiva). Com isso eu passei por inúmeros momentos de extrema infelicidade. Meu pais me apoiaram incondicionalmente em todos os momentos, e com isso pouco a pouco voltei a sentir o respeito que eu tinha por eles, que nunca deveria ter perdido.

Não por acaso, a maioria das religiões fazem clara referência da importância simbólica e concreta dos pais nas vidas das pessoas.

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