A perspectiva de terceira pessoa (Parte II: Deus)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

"O temor do Senhor é o princípio da sabedoria"
(Provérbios de Salomão 9:10)

Durante o período em que fiquei sem a referência benéfica de orientação dos meus pais, passei por um jejum espiritual bastante temível em que eu tendi para idéias niilistas, duvidando da existência de um significado da vida como um todo. A religião cada vez mais deixava de me satisfazer intelectualmente (e nesse período minha mente foi dominada por uma espécie de extremismo de racionalismo); ao conhecer as idéias de diferentes religiões elas pareciam aparentemente contraditórias, e sendo aparentemente impossível discernir qual delas seria a verdadeira, se é que uma realmente era verdadeira.

Após muitos altos e baixos, uma sede espiritual extremamente intensa naquela época me fez voltar a acreditar em Deus, ou em alguma coisa que eu não sabia bem o que era ou como definir (um princípio transcendente superior), mas que eu sentia como sendo verdadeira e que dava sentido à vida. Não sendo isso atrelado à uma religião específica, e após ter conhecido alguns clássicos de religião comparada, passei a entender as religiões de uma maneira bem diferente e menos contraditória.

Deus passou a ser para mim uma referência externa confiável, um farol, a quem eu deveria obedecer e respeitar, além dos meus próprios desejos e vontade, sendo eu algo infinitamente pequeno em comparação a Deus, mas ainda assim relevante. Isso de certa forma era um conforto espiritual muito grande, sendo muito melhor do que o total egocentrismo pelo qual eu passei.

Mas quem ou o que é Deus? Essa é uma definição bastante complicada, à qual diferentes pessoas irão responder diferentes coisas.

A maioria dos professores buddhistas defendem a posição de que não existe um Deus criador e eterno, em consonância com o argumento de Nagarjuna.

Eu (não sou professor muito menos autoridade, e mesmo se fosse isso seria só minha opinião) pessoalmente acredito que a "existência" ou "não-existência" de Deus independe de argumentos, já que estes só se baseiam em definições nebulosas e arbitrárias, em palavras. "Deus" é só uma Palavra. Mas sinto que a crença em Deus, ou num princípio superior transcendente e absolutamente confiável é muito benéfica e confortante para um imenso número de pessoas, e na minha opinião incomparavelmente melhor que um niilismo ou um egocentrismo exarcebado.

Definições são somente definições, e não são as coisas tais como elas são. Mas se me perguntassem o que eu entendo por Deus eu diria isso: Deus, para mim, é Tudo, e sendo assim, também é Nada.

"Porque és pó, e ao pó tornarás" (Gênesis 3:19)

4 comentários:

muriloha disse...

Maravilhoso blog. Parabéns!

Jōken disse...

'Nós não sabemos o que Deus é. Deus mesmo não sabe quem Ele é, pois Ele não é nada. Literalmente Deus não é, pois Ele transcende ser."
Johannes Scotus Eriugena

Anônimo disse...

oi João,

boa essa serie/reflexiva sobre Deus, acabei caindo nas minhas reminiscencias. Eu criada com freiras, aos 12/13 anos tb "briguei" com Deus...me lembro que num dos papos com uma freira amiga, coloquei que não consegui mais rezar aquelas orações, pai nosso, ave maria e tal, que aquilo era vazio, era mecanico, puro hábito. Tanto que sempre perdia os horarios das missas matutinas ( as 6.30 da manhâ) eu não conseguia sair da cama, era a ultima a chegar na capela, e quase no fim...e tome sermão depois.

Bem depois de muita crise, a conclusão que eu e a freira chegamos, e me disse ( já que eu disse a ela e ela me viu por várias vezes, ir a capela nos horários vagos, sozinha e apenas ficar ali, em silencio) era de que eu não precisa fazer aquelas orações, se ela não tinham sentido para mim ( mas tinha que estar presente com o grupo, ai ela não poderia abrir um precedente...senão já viu...eu concordo afinal a crise ( de fé, vamos chama-lá assim)era minha não das outras meninas...rs.Bem a conclusão foi de que eu fizesse o que já fazia, apenas fosse a capela e ficasse ali, quietinha em silencio, ouvindo o coração, que isso sim era a verdadeira oração.

Muitos anos depois, já adulta e nesses papos de boteco regados a muito chopp com amigos, ou msm num papo mais intimo individual com um amigo. Sempre vinha a questão se eu acreditava em Deus, como lidava com isso...e lá ia eu explicar que Deus para mim, era o Universo, o tudo o nada, um além de....rs. e que isso me confortava. Como psi esse era um tema recorrente entre nós, apesar de ser tabu, afinal Freud tinha tentado dar seu veredicto, e isso acabo ficando como " verdade" para muitos de nós... a tal necessidade infantil de um Deus-Pai, protetor, o Pai perdido na infância....

Na maturidade " cai" no budismo, primeiro o Zen...era o que tinha mais traduzido para o portugues...não praticava numa sangha, apenas ir ouvir palestras com Coen sensei, ou mais alguém...mas algo me era familiar...depois a descoberta e o impacto com o Budismo Shin numa madrugada insone, que é hj onde tenho a minha base...Recentemente descobri num papo de amigos, que esse é um assunto que para mim fechou lá na minha adolesc....eu de fato não questiono, não sofro, não me incomodo por essa questão...há um além mais, deste corpo, ego e eu simplesmente abaixo a cabeça e me rendo...Hj chamaria sem sombra de dúvidas esse
" além mais" de Vida.

gasshô e abs

ana

Jōken disse...

Grato pelos comentários, gasshô.