Mula madhyamaka karika (Versos Fundamentais sobre o Caminho do Meio) - Capítulo 25

domingo, 4 de outubro de 2009

A quem possa interessar. Uma tradução de tradução pessoal do capítulo 25 do Mulamadhyamakakarika, um pouco truncada, com alguns comentários meus, para estudo pessoal.

Traduzido de http://www.stephenbatchelor.org/verses2.htm


Capítulo 25. Investigação do Nirvana

1. Se tudo fosse vazio, então não haveria originação e cessação. Do abandono de que e da cessação de que alguém poderia referenciar o Nirvana?

[Comentário meu: Nirvana é definido como a cessação de duhkha. Se não houvesse duhkha, tampouco poderia haver Nirvana. O mesmo se aplica a Nirvana e Samsara.]

2. Se tudo não fosse vazio, não haveria originação e cessação. Do abandono de que e da cessação de que alguém poderia referenciar o Nirvana?
[Comentário meu: vazio = sem existência independente/inerente.]

3. Nenhum abandono, nenhum alcançar, nenhuma aniquilação, nenhuma permanência, nenhuma cessação, nenhum nascimento: assim é dito do nirvana.

4. Nirvana não é uma coisa. Se fosse, teria características de envelhecimento e morte. Não existe nenhuma coisa que seja sem envelhecimento e morte.

5. Se Nirvana fosse uma coisa, Nirvana seria um fenômeno condicionado. Não existe nenhuma coisa em nenhum lugar que não seja um fenômeno condicionado.

6. Se Nirvana fosse uma coisa, como poderia o Nirvana não ser dependente? Não existe absolutamente nenhuma coisa que não seja dependente.

7. Se Nirvana não fosse uma coisa, como poderia possivelmente ser uma não-coisa? Para aquele que o Nirvana não é uma coisa, para ele o Nirvana tampouco é não-coisa.

[Comentário meu: Estou traduzindo thing como coisa e nothing como não-coisa, ao invés de nada. Se Nirvana não for definido como uma coisa, tampouco pode ser definido como uma não-coisa, pois coisa e não-coisa são definidos simultâneamente, e um depende do outro. Estou tentando evitar ao máximo possível a palavra nada pois ela confunde muito a lógica - que de qualquer modo logo vai ficar confusa.]

8. Se Nirvana não fosse não-coisa, como poderia o Nirvana ser possivelmente não-dependente? Não existe nenhuma não-coisa que seja não-dependente.

[Comentário meu: De novo traduzindo nothing como não-coisa, ao invés de nada. Isso para tentar deixar um pouco mais claro no verso que não-coisa não pode independente/não-dependente (se coisa é dependente, não-coisa também é, pois uma é definida a partir da outra.)]

9. Quaisquer coisas que venham ou vão são dependentes ou causadas. Não ser dependente e não ser causado é ensinado como sendo o Nirvana.
[Comentário: Nirvana = Incondicionado.]

10. O professor ensinou [que o Nirvana é] abandonar a originação e a cessação. Assim, é correto dizer que o Nirvana não é uma coisa ou uma não-coisa.

11. Se Nirvana fosse ambas coisa e não-coisa, consequentemente seria uma coisa e não-coisa. Isso é incorreto.

12. Se Nirvana fosse ambas coisa e não-coisa, Nirvana não seria não-dependente, pois dependeria dessas duas.

13. Como poderia o Nirvana ser ambos uma coisa e uma não-coisa? Nirvana é incondicionado; coisas e não-coisas são condicionadas.

14. Como poderia o Nirvana existir como ambas coisa e não-coisa? Essas duas não existem como uma. Elas são como claro e escuro.

15. A apresentação de nem coisa nem não-coisa como sendo o nirvana seria estável apenas se coisa e não-coisa fossem estáveis.
[Comentário meu: Nem coisa nem não-coisa são definidas a partir de coisa e não-coisa, portanto também são dependentes de coisa e não-coisa, e portanto, não-estáveis.]

16. Se Nirvana é nem uma coisa nem não-coisa, por quem "nem coisa nem não-coisa" seria percebida?

17. Depois que o Abençoado entra no Nirvana, alguém não pode percebê-lo como "existindo" ou como "não existindo" ou como "ambos existindo e não existindo" ou "nem existindo nem não existindo".
[Comentário meu: Abençoado = Buddha, Nirvana = Parinirvana, ou seja, após a morte do Buddha. São as quatro negações além do pensamento conceitual, ou que simplesmente não se aplicam ao pensamento conceitual.]

18. Mesmo enquanto o Abençoado está vivo, alguém não pode percebê-lo como "existindo" ou como "não existindo" ou como "ambos existindo e não existindo" ou "nem existindo nem não existindo".

19. Samsara não é minimamente distinto de Nirvana. Nirvana não é minimamente distinto de Samsara.

20. Qualquer que seja o fim do Nirvana, é o fim de Samsara. Não há nem mesmo uma mínima muito sutil distinção entre Nirvana e Samsara.

21. Visões sobre morte, fim, e permanência são contingentes a partir do Nirvana e fins posteriores e fins anteriores.
[Meu comentário: Não entendi.]

22. Sendo todas as coisas vazias, o que tem fim? O que não tem fim? O que é simultaneamente com fim e sem fim? O que nem tem fim nem não tem fim?

23. Há isso? Há aquilo? Há permanência? Há simultaneamente permanência e impermanência? Há nem permanência nem impermanência?

24. Pacificar totalmente todos os referenciais e pacificar totalmente todas as fixações é paz. O Buddha em nenhum lugar ensinou nenhum dharma a ninguém.
[Comentário meu: Uma possível apresentação 'positiva'- Como o Buddha poderia ensinar alguém, se ele não é separado de ninguém? Como o Buddha poderia estar em algum lugar específico, se ele está em todo lugar? Como poderia ensinar algum dharma, se não há nada que não seja dharma?]

4 comentários:

Kisse disse...

belissimo texto,onde encontro o tratado do caminho do meio completo?

Kisse disse...

onde encontro os outros capítulos?
muito bom

Kisse disse...

onde encontro os outros capítulos?
muito bom

Jōken disse...

Não conheço nenhuma tradução completa para o português. É possível encontrar algumas traduções para o inglês na internet como a do começo do texto.