O ensinamento abaixo faz parte do texto "O Despertar da Fé Mahayana", atribuído tradicionalmente a Ashvaghosha (Anabotei Dai-Oshô na linhagem Zen). A versão existente mais antiga é a chinesa, datada do ano 553, tradução do sânscrito para o chinês de Paramartha (tradutor também para o chinês do Compêndio do Abhidharma, de Vasubandhu - Bashubanzu Dai-Oshô). O texto tem vários séculos, mas essencialmente é a mesma instrução que é dada atualmente para os praticantes de zazen-shikantaza, quanto à atitude mental durante o zazen.
"Aqueles que irão praticar o 'aquietamento' devem se retirar a um lugar tranqüilo, e lá, sentando de modo ereto, sinceramente procurar tranqüilizar e concentrar a mente. A princípio pode-se pensar na própria respiração, mas não é sábio continuar essa prática por muito tempo, nem deixar a mente descansar em qualquer aparência particular, ou visões, ou concepções, surgidas dos sentidos, tais como os elementos primários terra, água, fogo e éter, nem deixá-la descansar em qualquer das percepções da mente, particularizações, discriminações, humores ou emoções. Todos os tipos de idealizações devem ser descartados tão logo que surjam; até mesmo as noções de controlar e descartar devem ser abandonadas. A mente deve ser como um espelho, refletindo as coisas, mas sem julgá-las ou retê-las. As concepções por elas mesmas não têm substância, deixe-as surgirem e irem embora livremente. Concepções surgidas dos sentidos e da mente inferior não tomarão forma por elas mesmas, a não ser que sejam agarradas pela atenção; se forem ignoradas, não haverá nem aparecimento nem desaparecimento. O mesmo é verdade para condições fora da mente; não se deve permitir que elas capturem a atenção e atrapalhem a prática. A mente não pode ficar absolutamente vazia, e como os pensamentos surgidos dos sentidos e da mente inferior são descartados e ignorados, devem ser substituídos pela mentalização correta. Surge então a pergunta: O que é mentalização correta? A resposta é: mentalização correta é a realização da própria mente, da sua Natureza* pura e não-diferenciada. Quando a mente está fixada em sua Natureza pura, não deve restar nenhuma noção persistente de eu, nem de eu no ato de realizar, nem de realização como fenômeno... "
Ashvaghosha - O Despertar da Fé Mahayana (in: The Perennial Philosophy, por Aldous Huxley)
* Optei na tradução pela palavra Natureza ao invés da palavra "Essência" já que esta parece ser atualmente evitada por tradutores budistas por confundir-se com outros conceitos pré-estabelecidos de essência na filosofia ocidental.
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