Chuva

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009


Está chovendo muito hoje.

Muitas pessoas da cidade não gostam da chuva. Outras gostam da chuva. Mas a chuva não se importa com o que as pessoas pensam ou não pensam dela. A chuva apenas chove.

Para a chuva, não há certo e errado. Algumas pessoas podem até achar que a chuva choveu na hora certa ou choveu na hora errada. Mas a chuva não sabe nada disso: a chuva somente chove.

Às vezes, a chuva causa enorme destruição. Outras vezes, a falta de chuva causa seca e fome na terra. Mas a chuva não faz essas coisas baseada em julgamentos. A chuva apenas chove.

Às vezes chove, às vezes não chove. Se não fosse assim, a chuva não poderia trazer benefícios. Se não chovesse, as plantas não teriam água. Se chovesse o tempo todo, as plantas não teriam sol. Mas a chuva não pensa em benefícios ou não-benefícios: ela só chove.

A chuva não ouve opiniões. Ou melhor, até pode ouvir pacientemente a opinião de quem queira falar com ela (como numa dança da chuva), mas certamente não vai agir baseada nessas opiniões. A chuva chove livremente.

Quando chove, as pessoas da cidade tem pressa em ir para casa ou para o trabalho. Se não tivessem tanta pressa, seriam mais gentis e cuidadosas no trânsito. Como não são, muitas batidas ocorrem. Então acusam: a chuva causa congestionamentos. Mas a chuva não se importa com as acusações. A chuva só chove.

A chuva não chove em busca de recompensas. Ela não almeja glória alguma. Ela não tem medo de acabar. Ela não teme mudanças. A chuva é livre para chover.

Alguém pode dizer que a chuva é fria e indiferente. Eu já acho que a chuva não pode ser indiferente, ela só poderia ser indiferente se ela se visse como algo separado das outras coisas. Mas a chuva não se vê como algo separado das outras coisas, da mesma maneira que um feto no interior da barriga da mãe: ele pode até não saber que ela existe, por não se ver como algo separado dela, mas certamente ele não é indiferente a ela - ele é totalmente interdependente com ela.

A chuva não existe como uma coisa só: a chuva não é uma gota, mas milhões de gotas, caindo assincronamente. Ao mesmo tempo, a chuva é uma coisa só: não é chamada "milhões de gotas", e sim "chuva". A chuva não é chuva se não existir os espaços entre as gotas, o espaço também compõe a chuva. A chuva não é separada de sua função: a chuva é também o próprio chover.

A chuva não é possível se não for por uma nuvem, ela depende da nuvem para surgir. A nuvem por sua vez depende do mar, do lago e do sol para evaporar. Porém quando ela chove, ela não é nuvem, nem lago, nem sol, é somente chuva. A chuva também não é completa se ela não cair em algum lugar, seja na terra, no mar ou na palma de uma mão. A chuva é interligada com tudo.

Por fim, a chuva não é chuva se não tiver alguém para chamá-la de chuva.

1 comentários:

Cubos Ludicos disse...

belíssimo texto, obrigado!