Sobre acreditar na Mente

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

(Japonês: Shinjin-no-mei, Chinês Hsin Hsin Ming)
por Chien-chih Seng-ts'an (Kanchi Sosan), Terceiro Patriarca Zen [falecido em 606]

Baseado na tradução de D.T.Suzuki


O Caminho Perfeito não conhece dificuldades
Exceto que ele se recusa a tomar preferências;
Apenas quando livre de ódio e amor,
Ele se revela plenamente e sem disfarce;
Um décimo de polegada de diferença,
E o céu e a terra são separados;
Se voce quiser ver diante de seus próprios olhos,
Não tenha nenhum pensamento a favor disso ou contra aquilo.

Colocar aquilo que você gosta contra aquilo que você não gosta
Essa é a doença da mente:
Quando o significado profundo (do Caminho) não é compreendido
A paz da mente é perturbada sem necessidade

[O Caminho é] perfeito como um vasto espaço,
Sem nada querendo, nada supérfluo:
É verdadeiramente devido a escolher
Que o seu tal-como-é é perdido.

Não persiga as amarras externas,
Não permaneça no vazio interno;
Seja sereno na unidade das coisas,
E [o dualismo] desaparece por si mesmo.

Quando você luta para obter quietude segurando o movimento,
A quietude assim obtida está sempre em movimento;
Enquanto você perdurar em dualismo,
Como poderá realizar a unicidade?

E quando a unicidade não é profundamente compreendida,
Em duas maneiras o erro é sustentado:
A negação da realidade é a afirmação dela,
A afirmação da vacuidade é a negação dela.

Muitas palavras e intelectualização -
Quanto mais com elas, mais nos desviamos;
Livre-se então de muitas palavras e intelectualização,
E não haverá nenhum lugar onde não possamos passar livremente.

Quando retornamos à raiz, obtemos o significado;
Quando perseguimos objetos externos, perdemos a razão.
O momento em que estivermos iluminados internamente,
Vamos além do vazio de um mundo que nos confronta.

Transformações acontecendo em um mundo vazio que nos confronta
Parecem reais só por causa da Ignorância:
Não tente ir atrás da verdade,
Apenas pare de adorar opiniões.

Não permaneça com dualismo,
Cuidadosamente evite persegui-lo;
Tão logo que você tenha certo e errado,
A confusão segue, e a Mente é perdida.

O dois existe por causa do Um,
Porém não se agarre nem a esse Um;
Quando a mente não é perturbada,
As dez mil coisas não oferecem ofensa.

Nenhuma ofensa oferecida, e nenhuma dez mil coisas;
Nenhuma perturbação acontecendi, e nenhuma mente pronta para trabalhar:
O sujeito é aquietado quando o objeto cessa,
O objeto cessa quando o sujeito é aquietado.

O objeto é um objeto para o sujeito,
O sujeito é um sujeito para o objeto:
Saiba que a relatividade desses dois
Descansa no fim das contas em Vacuidade.

Em Vacuidade os dois não são distintos,
E cada um contém em si mesmo todas as dez mil coisas
Quando nenhuma discriminação é feita entre isso e aquilo
Como pode uma visão unilateral e preconceituosa surgir?

O Grande Caminho é calmo e de grande coração,
Para ele, nada é fácil, nada é difícil;
Opiniões simplórias são hesitantes,
Quanto mais apressadas mais demoram a ir.

O apego nunca é mantido sob rédeas curtas,
Certamente ele irá tomar o caminho errado;
Desista dele, e as coisas tomarão seu próprio caminho,
Enquanto a Essência nunca parte nem permanece.

Obedeça a natureza das coisas, e você estará em concordância com o Caminho,
Calmo e tranquilo e livre de perturbação;
Porém quando seus pensamentos estiverem amarrados, você se afasta da verdade,
Eles se tornam mais pesados e tolos e não são de forma alguma seguros.

Quando eles não são seguros, o espírito está perturbado.
Qual então é o uso de ser parcial e unilateral?
Se você quiser trilhar o caminho do Veículo Único,
Não tenha preconceitos contra os objetos dos seis sentidos.

Quando você não tem preconceitos contra os objetos dos seis sentidos,
Então você é um com a Iluminação;
Os sábios são não-ativos,
Enquanto os ignorantes criam amarras para si mesmos;
Enquanto no Dharma em si não há individualização,
Eles ignorantemente se apegam a objetos em particular.
É a sua própria mente que cria ilusões -
Não é essa a maior de todas as autocontradições?

O ignorante adora idéias de tranquilidade e estresse
O iluminado não tem preferências e não-preferências,
Todas as idéias de dualismo
São artificialmente criadas pelos próprios ignorantes.
Elas são como visões e flores no ar;
Porque deveríamos nos preocupar em agarrá-las?
Ganho e perda, certo e errado -
Acabe com eles de uma vez por todas!

Se um olho nunca adormece,
Todos os sonhos cessam por eles mesmos,
Se a Mente mantém-se absoluta,
As dez mil coisas são de um só Tal-como-é.

Quando o profundo mistério de um só Tal-como-é é desvendado,
Subitamente esquecemos de todas as amarras externas;
Quando as dez mil coisas são vistas em sua unicidade,
Retornamos à origem e permanecemos onde sempre estivemos.

Esqueça o porque das coisas,
e atingimos o estado além de analogia;
O movimento é paralisado e não há movimento,
A quietude é colocada em movimento e não há quietude
Quando o dualismo não mais tem vez
A própria Unicidade não permanece.

O fim último das coisas além do qual elas não podem mais ir
Não é limitado por regras e medidas:
Na Mente harmoniosa (com o Caminho) temos o princípio da identidade,
No qual encontramos todas as lutas aquietadas;
Dúvidas e hesitações são completamente eliminadas,
E a fé correta é aprumada;
Não há nada deixado para trás,
Não há nada retido,
Tudo é vazio, lúcido, e auto-iluminante;
Não há esforço, nenhum desperdício de energia
É aí que o pensamento nunca chega
É aí que a imaginação falha em medir.

Na esfera mais alta do verdadeiro Tal-como-é
Não há nem "si mesmo" nem "outro":
Quando a identificação direta é procurada,
Podemos apenas dizer, "Não dois".

Em sendo "não dois" tudo é o mesmo,
Tudo o que é é compreendido nele;
Os sábios nas dez direções
Todos entram nessa Razão Absoluta.

Essa Razão Absoluta é além do apressar [tempo] e estender [espaço],
Para ela um instante é dez mil anos;
A vejamos ou não
Ela se manifesta em todo o lugar em todas as dez direções.

Coisas infinitamente pequenas são tão grandes quanto grandes coisas possam ser,
Pois aqui nenhuma condição externa tem vez;
Coisas infinitamente grandes são tão pequenas quanto pequenas coisas possam ser;
Pois limites objetivos aqui não são considerados.

O que é é o mesmo que o que não é,
O que não é é o mesmo que o que é.
Quando esse estado de coisas não têm mais vez,
De fato, nenhum atraso ali.

Um é Tudo,
Tudo é Um -
Se apenas isso for percebido,
Nenhuma preocupação sobre não ser perfeito!

Quando a Mente e cada mente que acredita não estão divididas,
E não-divididas são cada mente que acredita e a Mente,
É aí que as palavras falham,
Pois isso não é do passado, do presente e do futuro.



Uma outra tradução (ótima) em: Zhong Dao.

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